Governança de Canal no D2C Industrial Brasileiro
- Wady Issa Fernandes
- 3 de nov.
- 4 min de leitura

⚖️🔥Como equilibrar canal direto sem destruir distribuidor (e sem virar refém do intermediário)
O erro mais recorrente que o industrial brasileiro comete quando começa a se aproximar do D2C é achar que vender direto “substitui” canal. Isso é ingenuidade estratégica nível máximo. E isso gera trauma, guerra comercial interna, sabotagem política e um efeito colateral invisível que quase ninguém percebe: quando o canal sente ameaça… ele passa a atuar contra você. 😬
E aí, mesmo quando o D2C dá certo na ponta — ele morre por resistência silenciosa dentro do próprio ecossistema.
A verdade é simples e precisa doer um pouco: o D2C industrial não compete com o canal. O D2C industrial compete com o paralelo, com o marketplace oportunista e com o cross-border barato. Essas são as ameaças reais. 🧨
O distribuidor é, ainda, um ativo estratégico de escala. Mas não é mais o gatekeeper da demanda.
Porque hoje… o comprador técnico e o consumidor final não esperam mais o balcão para formar opinião. Eles pesquisam antes. Eles decidem muito antes. Eles filtram intenção antes. Eles entendem compatibilidade e especificação antes. 🤳🔍
Isso significa que o ponto onde “decisão nasce” não está mais no canal. Está na mente do cliente final.
Por isso D2C não é canal substituto. É canal primário de captura de intenção. ⭐
Para aprofundar essa visão sobre o reset do papel da indústria no digital, vale ler o artigo principal desta série: D2C Industrial no Brasil
Por que isso muda tudo?
Porque se a indústria não assumir o papel de educar o mercado… quem educa é o intermediário. E quem educa → governa. Quem governa → define valor. Quem define valor → possui a margem.
Logo, governança de canal não é necessariamente sobre “definir regras de convivência”. Governança de canal é, antes de tudo, definir quem define sentido dentro da categoria.
A disputa real é semântica. Não militar. E sim — é horizontal, não vertical.
Exemplo brasileiro concreto que ajuda a visualizar isso 🧩
A Tigre entendeu isso cedo. A autoridade técnica que eles construíram ao longo dos anos não nasceu de tabelas. Nasceu de posicionamento técnico que molda categorias. E quando você molda categoria → você não precisa disputar a narrativa do “mais barato”.
Tigre continua estabelecendo referência mental no imaginário coletivo de materiais / hidráulica / solução estrutural do lar brasileiro. E quando alguém vira referência mental… o canal não tenta destronar. O canal se apoia nela para aumentar conversão. https://www.tigre.com.br
Essa é a raiz de governança de canal inteligente no Brasil real: canal não teme quem constrói valor. Canal teme quem destrói valor.
O industrial só perde canal quando:
entra no mesmo jogo do distribuidor (comparação direta)
disputa preço no mesmo SKU
posiciona-se igual ao varejo
vira “alternativa equivalente”
tenta ganhar pela régua errada (desconto) 🪫
Quando isso acontece, o distribuidor não vê indústria protagonista. Ele vê indústria concorrente. E se a indústria vira concorrente do próprio canal → ela perde dois lados ao mesmo tempo:
destrói margem
destrói apoio do ecossistema
Governança de canal é a blindagem contra esse colapso silencioso.
Ou seja...
D2C não substitui canal → D2C captura intenção
disputa real não é com distribuidor → é com o paralelo e cross-border
quem governa significado governa categoria
preço, conteúdo e narrativa → definem autoridade
E o distribuidor não teme indústria que constrói valor. Teme indústria que vira varejo disfarçado.
A Indústria precisa voltar a ser a fonte da verdade técnica do mercado 🧠📡
D2C industrial não existe para eliminar intermediário. Existe para retomar o protagonismo de quem entende produto. Porque hoje o jogo digital é de quem consegue ordenar o conhecimento da categoria — e não só ter estoque.
A indústria brasileira esqueceu disso por décadas. Ficou refém do fluxo reverso do modelo: produzia → entregava → esperava canal vender → e só reagia depois. No digital isso é suicídio operacional. 🪦
No digital, quem ordena o conhecimento → captura o desejo antes do preço. E quem captura desejo antes do preço → nunca disputa por preço.
Esse é o ponto mais negligenciado do industrial BR na migração para o D2C.
A função do D2C Industrial não é competir.
A função do D2C Industrial é reposicionar o fabricante como cérebro da categoria 🧬🏭
E quando a indústria volta a ser fonte de contexto técnico → o distribuidor vira aliado natural. Não inimigo.
Porque o distribuidor quer vender mais — ele só não quer perder poder. E ele perde poder apenas quando a indústria tenta ser varejo. Não quando ela quer ser categoria.
Indústria que tenta ser varejo → perde canal. Indústria que volta a ser categoria → lidera canal.
A diferença não é sutil. É existencial.
O que governança resolve? 🔒
Reduz atrito político
Reduz sabotagem “invisível” de canal
Reduz risco de guerra de preço
Evita destruição de valor de marca
Evita que marketplace vire destino primário do cliente
Governança de canal é proteção do modelo. É sustentação de previsibilidade. É a ponte entre captura digital e escala física. 🌉
Sem governança — o D2C vira um inimigo interno silencioso. Com governança — o D2C vira motor de aceleração de demanda, e canal se torna multiplicador.
Conclusão
A indústria brasileira não pode perder tempo operando pautada por medo político interno. O digital já atropelou quem acha que demanda é patrimônio estático.
D2C industrial é inevitabilidade. Mas D2C sem governança é irresponsabilidade estratégica.
A diferença entre quem vai liderar a próxima década industrial e quem vai virar OEM irrelevante é uma só:
quem governa demanda vs
quem depende de canal pra existir.
E governança de canal é o mecanismo que garante que o D2C não destrói o ecossistema — ele eleva todo mundo junto.
Quer aprofundar a visão estratégica base que sustenta essa tese?
Leia o artigo principal desta série: D2C Industrial no Brasil
Ele é o “norte estratégico” que ancora o restante dos textos dessa série.





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